Cálculo de brasileiro com base em imagens do telescópio Chandra atesta que objeto bizarro gira em alta velocidade. Prevista em teoria, rotação acelerada desses monstros cósmicos de 1 bilhão de km de raio ainda não era um consenso entre cientistas. Na hora de bater uma vitamina em um liquidificador, a velocidade de rotação do motor do eletrodoméstico é fundamental para o sucesso da empreitada. No espaço, nos buracos negros carregados de massa, a situação é mais ou menos a mesma, o problema é que lá não existe um painel de velocidade disponível para ser usado.
Rodrigo Nemmen, pesquisador da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), resolveu contribuir para o manual de instruções desses grandes liquidificadores espaciais, que chegam a ter 1 bilhão de quilômetros de raio (quase a distancia de Saturno ao Sol). Segundo cálculos feitos por ele, mesmo com todo esse tamanho os buracos negros gigantes completam uma volta ao redor de seu eixo a cada 24 horas. Ou seja, seu "dia" tem a mesma duração do dia terrestre.
A inferência é um desdobramento da conclusão principal obtida pelo pesquisador e apresentada no inicio do mês na reunião anual da Sociedade Astronômica Americana. Os nove núcleos de galáxia (que contem megaburacos negros) observados pelo telescópio de raios X Chandra estão girando em velocidades próximas à da luz. "Essa e' mais uma evidencia de que os buracos negros com grande quantidade de massa giram rápido. Não existe consenso sobre isso na literatura", diz Nemmen, de 26 anos. De acordo com o cientista, outros estudos já haviam demonstrado a rápida velocidade de rotação de alguns buracos negros, "mas para objetos bem menores", segundo o autor. "Conseguimos criar uma nova maneira de estimar a rotação, mas e' claro que ela não tem 100% de certeza", disse. A alta velocidade de giro de um buraco negro com uma grande massa, na pratica, resulta numa curvatura diferente do espaço ao redor, como havia previsto a teoria da relatividade geral, de Albert Einstein. E a atracão gravitacional alterada pela velocidade próxima à da luz acaba arrastando tudo, fenómeno que faz com que a matéria ao redor do buraco negro não consiga escapar dele. "Você não consegue fugir do liquidificador. Isso ocorre apenas em algumas situações, representada pela emissão de jatos de gás próximo à superfície do buraco negro", explica o pesquisador da UFRGS. Mas entender como isso ocorre é um outro tópico do manual de instruções que ainda será escrito no futuro pelos cientistas.
Outro pesquisador que contribui com seu trabalho para o guia dos buracos negros, Reuven Opher, da USP, achou interessantes os resultados obtidos pelo grupo gaúcho. "É mais uma evidencia razoável, baseada em observações do Chandra e em modelos teóricos, de que os buracos negros estão girando muito rápido", afirmou. A velocidade de rotação dos buracos negros e a quantidade de massa dentro deles são dois dados essenciais para saber a identidade desses objetos. O cobiçado manual de instruções dos buracos negros não será útil apenas para o avanço do conhecimento teórico. "É claro que é incrível que a humanidade confinada neste planetinha no cantinho da Via Lactea consiga avancar no conhecimento dos fenômenos mais extremos do Universo, mas não e' apenas isso", diz o pesquisador gaúcho. Como os buracos negros estão ligados com as galáxias que eles habitam, saber a biografia deles e' praticamente ter acesso à vida das galáxias. E também saber quando o liquidificador foi ligado, diz Nemmen.
(Fonte:Eduardo Geraque, Folha de SP )
(Fonte:Eduardo Geraque, Folha de SP )
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