(Diário do Nordeste) Limoeiro do Norte. Jovens estudantes cearenses, notadamente do Interior, não querem mais saber somente da Terra. As aulas de ciências sobre o Universo não se limitam mais aos conceitos básicos de planetas, estrelas, galáxia, pois os estudantes, cada vez mais curiosos, querem saber e ver como tudo funciona. Cresce o interesse pela Astronomia no Ceará, e o expressivo aumento de 192% no número de inscritos na Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA), prova realizada no dia 9 passado, reflete apenas parte de uma ambição maior.
Amanhã, acontece a entrega de um telescópio a Limoeiro do Norte, pelo governo do Estado. É de adolescentes a idéia de criar clubes de Astronomia no Interior. E depois de uma estudante de Russas alcançar o 3º lugar nacional na olimpíada do ano passado, foi a vez de jovens de Limoeiro do Norte — município com mais inscritos desde 2007 — projetarem a construção de um observatório astronômico. Já contam com apoio de uma ONG internacional. Além de Limoeiro, Sobral, Quixadá e Juazeiro do Norte devem concentrar grupos de estudos científicos também.
Buracos negros
Não estamos sozinhos neste Mundo. Pode até não existir vida fora da Terra, mas o que há de matéria “morta” se movendo lá fora, compondo estrelas, planetas, asteróides... É o suficiente para impressionar jovens de 13, 15 anos. Eles passaram a exigir dos professores em sala de aula mais do que as superficiais informações didáticas dos livros sobre conceitos de planetas e estrelas. Agora querem saber da poeira cósmica à formação dos buracos negros no Universo.
Pelo menos 21% das escolas do Estado mandaram representantes para a Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA), um aumento de 192% em relação a 2007. De cada dez escolas brasileiras, pelo menos uma era cearense, suficiente para o Estado superar até a participação de São Paulo. No ano passado cerca de 350 mil alunos participaram da OBA, sendo que 43,3 mil eram do Ceará.
“Eu gosto de Astronomia desde pequeno, daí encontrei professores que também tinham interesse, depois surgiu a idéia de criar um clube de astronomia e adquirir um telescópio”, afirma Guilherme Weber, 18 anos, da Escola Normal Rural de Limoeiro do Norte. Outros garotos, um pouco mais tarde, também descobriram as estrelas e planetas. Foi durante o eclipse total da Lua, em fevereiro deste ano, quando uma leva de meninos e seus professores observavam satélite e estrela por telescópio no meio da praça da rodoviária entre a noite de quarta-feira, 20, e madrugada de quinta, 21. Isto porque outra cena igual à que observaram somente em 21 de dezembro de 2010.
Planetário
Depois do telescópio e da idéia de criar o Clube Vale Jaguaribano de Astronomia (CVJA), os professores Fábio Pitombeira e Rozângela Maria coordenaram as idéias do que se revelou um projeto maior: a construção de um observatório astronômico, mais conhecido como planetário. Um projeto dos alunos da Escola Normal conquistou a simpatia e o apoio da Organização Não Governamental Ashoka, que atua no Brasil apoiando empreendimentos criados por jovens em áreas como saúde, educação, ciências e esporte.
Com o preço salgado do telescópio em torno de R$ 5 mil, com apenas R$ 1.500 repassados pela Ashoka deram ponta-pé inicial para a compra das principais peças, “e outras partes a gente vai conseguindo até poder montar”, afirma o estudante Guilherme Weber.
A mesma intenção de investir em Astronomia vem da empolgação de professores das escolas públicas municipais. No ano passado, 73 alunos de escolas municipais ganharam medalhas pela boa atuação na olimpíada, da qual participaram cerca de 10% dos estudantes das escolas municipais. Neste ano, são 81 medalhistas.
Há duas semanas estiveram com o professor Demerval Carneiro Neto, coordenador Estadual da Olimpíada Brasileira de Astronomia e diretor do Planetário de Fortaleza, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. “Temos muitos inscritos na olimpíada, mas o nível do conhecimento ainda está aquém do desejado, mas gostei de ver os municípios se interessando pela Astronomia”, comentou Demerval.
O professor defende a criação de centros de educação científica e pedagógica em municípios do Interior. Os trabalhos, com parceria da Secretaria de Ciência e Tecnologia, devem começar por Juazeiro, Sobral, Limoeiro e Quixadá.
O que eles pensam
Incentivar e investir na formação
Para que a criança desperte o interesse pela Astronomia o professor precisa saber cativá-la. A criação de um observatório astronômico possibilita conhecer não só a Astronomia mas toda a ciência e tecnologia. A população que pode ter acesso a um planetário e a um centro de estudos da Astronomia, dá um salto enorme na qualidade do ensino. Uma das frases mais importantes que vi na vida e repasso aos administradores municipais é, se você acha a educação cara experimente a ignorância. Um observatório pode atrair as comunidades de outros municípios. Torna-se um projeto de turismo-pedagógico na região”.
Demerval Carneiro
coordenador estadual da Olimpíada Brasileira de Astronomia
"Desde criança eu gosto de Astronomia, daí encontrei professores que gostassem do mesmo tema, e fiz contato pela internet com outras pessoas interessadas. Participantes do Clube de Astronomia de Fortaleza me deram incentivo, e quando aconteceu o eclipse da Lua no mês passado foi que percebi que outras pessoas também passaram a ter interesse pela Astronomia. Agora estamos criando o Clube Vale Jaguaribano de Astronomia (CVJA). Não está tudo definido, mas é o começo, até um dia a gente ter um planetário que sirva para toda a região, despertando o interesse dos jovens”.
Guilherme Weber
Estudante em Limoeiro de Norte
"É uma ousadia da nossa parte desenvolver atividades de incentivo ao estudo da Astronomia em Limoeiro. Os estudantes estão se interessando mais. Ficam fascinados quando vêem no telescópio os planetas. Não temos uma grande estrutura, conseguimos aprovar projeto com a ONG Ashoka, e com o valor de R$ 1.500 estamos montando o nosso telescópio, algumas peças serão feitas em cano PVC mesmo. O ideal é unir forças, inclusive com autoridades, para desenvolver um projeto caro para a nossa pequena realidade, mas que é uma riqueza de informações."
Fábio Pitombeira
Professor de Física
APOIO À EDUCAÇÃO
Limoeiro quer construir um observatório
Limoeiro do Norte. Viagem ao espaço pelo astronauta brasileiro Marcos Pontes, maior divulgação da Olimpíada Brasileira de Astronomia, ocorrência de eclipses lunares e descoberta de novos planetas, problemas de aquecimento global, tudo são fatores que, na opinião de professores, explicam o maior interesse dos jovens pela Astronomia. A criação de um observatório astronômico é visto como incentivo à educação e ao turismo pedagógico.
No ano passado, a terceira melhor nota na Olimpíada Brasileira de Astronomia levou a estudante de Russas, Brena do Carmo Cardial, hoje com 15 anos, como única cearense para a III Jornada Espacial em São José do Campos (RJ), para a qual foram selecionados os 50 melhores colocados do País. Ela ainda conheceu o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), onde também assistiu a palestras sobre a área espacial. Pretende seguir carreira na astronomia. Mas foi a repercussão local da conquista de Brena um importante indicador do interesse por essa ciência. A possibilidade de ter o nome do município em destaque levou administradores municipais a incentivar maior número de inscrições na OBA.
Medalhas
Este ano, 2.052 escolas cearenses inscreveram-se na olimpíada, um aumento de 192% em relação a 2007. Em todo País, 15.592 escolas se cadastraram. No ano passado, estudantes de Limoeiro do Norte, cidade que mais enviou estudantes para a olimpíada, receberam, no total, 79 medalhas. Pelo feito, amanhã o governador Cid Gomes entregará um telescópio ao município.
Convencida da importância pelo astrônomo Demerval Carneiro, a prefeitura agora fala na possibilidade de construir um observatório na cidade.
Conforme a professora Rozângela Maria, da Escola Normal Rural de Limoeiro do Norte, assim que terminarem de montar, até o mês de julho, o telescópio que compraram com recursos da ONG Ashoka — peças que não puderam ser compradas serão feitas com canos PVC — o equipamento será levado para todas as comunidades de Limoeiro. “Vão se emocionar ao ver a Lua mais de perto”, comenta a professora.
E a curiosidade oportuniza um maior interesse pela área. O Projeto Jovem Astrônomo também prevê a construção de um observatório, orçado em R$ 200 mil. Nesse ano será realizada também a segunda edição da Olimpíada Brasileira de Foguetes (OBFOG).
Mais informações:
Projeto Jovem Astrônomo
Professor Fábio Pitombeira
(88) 9205.6955
Planetário Rubens de Azevedo, Fortaleza (CE)
Demerval Carneiro
(85) 3488.8639
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