Pulso de raios ultravioleta, expandindo-se a partir de uma galáxia distante
(Estadão) Uma equipe internacional de astrônomos detectou o pulso de luz ultravioleta que precedeu, em poucas horas, a destruição de uma estrela supergigante vermelha. A descoberta, descrita na tarde desta quinta-feira, 12, em artigo publicado no website Science Express, da revista Science, é divulgada menos de um mês depois de outra equipe ter anunciado, na revista Nature, a detecção dos raios X emitidos no momento da morte de uma outra estrela, menor.
Embora tivessem características bem diferentes, ambas as estrelas morreram dando origem a supernovas, enormes explosões que podem, por algum tempo, brilhar mais intensamente que uma galáxia inteira, e que são responsáveis por liberar no Universo os elementos químicos mais pesados, como cálcio e ferro. "Acho que vivemos numa era de ouro do estudo das supernovas", disse um dos autores do trabalho publicado na Science, Kevin Schawinski,da Universidade Oxford. "Isso porque há muitas equipes dedicadas, e muitos telescópios. Certamente aprenderemos algumas coisas surpreendentes no futuro".
Uma das coisas que os cientistas esperam aprender é exatamente o que causa explosões tão violentas como as vistas em supernovas. "Nossos modelos de computador ainda não explodem, mas as estrelas continuam explodindo", resume o astrofísico Ramiro De La Reza, do Observatório Nacional (ON), do Rio de Janeiro.
Cientistas acreditam que supernovas do tipo conhecido como de colapso de núcleo explodem quando esgotam o combustível para a fusão nuclear, o que faz com que suas camadas externas mergulhem em direção ao núcleo, atraídas pela gravidade. Isso causaria um ricochete, como o de uma bola de basquete jogada com força no chão. "A onda de neutrinos parece não ser eficiente, a onda de choque resultante do ricocheteio no núcleo parece também ser não suficiente", explica De La Reza. "Algumas pessoas apostam em uma turbulência poderosíssima, produzida pelos diversos mecanismos de aquecimento, que acabaria levando à explosão".
Neutrinos são partículas subatômicas que também são emitidas na explosão de supernovas. Os neutrinos disparados pela supernova SN 1987A, que explodiu em uma galáxia próxima à Via-Láctea, chegaram a ser detectados na Terra.
"Nós vimos a radiação do colapso do núcleo antes que a onda de choque da explosão atingisse a superfície da estrela", diz Schawinski. "Essa luz codifica informações preciosas sobre as propriedades da estrela que morreu, o tipo de informação que, antes, acreditava-se destruído pela supernova". O pesquisador explica que os raios ultravioleta são gerados pela onda de choque que se expande a partir do núcleo da estrela, e viajam à frente da onda. "Essa radiação precursora chega à superfície horas antes da onda que, então, destrói a estrela".
"Teóricos vinham prevendo que a onda de choque deveria gerar um enorme flash de ultravioleta há mais de 30 anos, e somos os primeiros a observá-lo", diz Schawinski.
O pulso de luz ultravioleta foi detectado pelo telescópio orbital Galex, da Nasa, lançado em 2003 para captar a radiação ultravioleta de galáxias distantes. A supernova, chamada SNLS-04D2dc, explodiu em 2004, numa galáxia a cerca de um bilhão de anos-luz de distância da Terra.
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