(Nelson Travnik) Há cem anos um objeto vindo do espaço causava enorme destruição na Sibéria. A magnitude do impacto ainda é a maior dos tempos modernos. A ciência procura respostas sobre a origem do míssil cósmico.
A madrugada do dia 30 de junho de 1908, na região de Tunguska, uma desolada e ampla taiga siberiana, parecia normal para algumas tribos nômades, usufruindo das temperaturas mais amenas do verão. Em momento algum de suas vidas poderiam imaginar que seriam testemunhas de um evento cósmico de proporções apocalípticas. Subitamente às 00h14 TU (Tempo Universal) foram acordados por um barulho ensurdecedor. No céu um imenso clarão seguido de uma cascata de fragmentos luminosos abate sobre a região. O solo treme e o pavor toma conta de todos. Tribos mais próximas a zona de impacto vêem suas vestes rasgadas, incendiadas e são atiradas à distância. O míssil cósmico com três milhões de toneladas explodiu a aproximadamente 6 km de altitude, a 30° acima do horizonte, azimute de 110° e nas coordenadas 60° 54’ 59” norte e 101° 56’ leste. Milhares de fragmentos precipitam-se sobre a superfície cavando cerca de 200 crateras de 1 a 50 metros. A zona de destruição atinge uma área de 2 mil km quadrados, milhões de árvores tombaram incineradas segundo um padrão radial numa posição de cima para baixo como se um súbito e instantâneo calor as houvesse atingido. As que resistiram ficaram desprovidas de galhos e folhas. Um onda de calor varreu a região secando riachos e lagos. Algumas propriedades rurais são arrasadas e animais morreram. Imediatamente sismógrafos disparam em todo o mundo. A Estação Sismográfica de São Petersburgo a 4.000 km de distância é uma das primeiras a registrar tremores. O ruído é ouvido num raio de 800 km de distância fazendo com que o maquinista da Ferrovia Trans Siberiana parasse o trem convencido de um descarrilamento. Algumas horas após a explosão, coloridos pouco comuns ao alvorecer e no crepúsculo chamam a atenção das populações do leste europeu e Ásia Central. O espetáculo continuou ainda por várias semanas. Nos céus de Moscou bem como em Londres , após alguns dias, surge um fenômeno luminoso que possibilita as pessoas lerem um jornal à meia noite! Esse espetáculo luminoso também foi visível a leste da Sibéria. Distúrbios no campo magnético da Terra são registrados a 900 km sudoeste do epicentro pelo Observatório Irkutsk. Tais distúrbios são mais tarde comparados aos produzidos por uma explosão nuclear na atmosfera. De fato, analisando recentemente as ondas sísmicas no laboratório sismológico do Instituto de Ciência Weizmann em Rehovot, Israel, as ondas sísmicas deflagradas pelo evento Tunguska, estimativas da intensidade liberada apontaram valores entre 10 e 15 megatons, o equivalente a mil bombas atômicas como as lançadas pelos norte-americanos sobre Hiroshima, Japão, em 6 de agosto de 1945 matando 140 mil pessoas e mutilando milhares por radiação e queimaduras externas.
ASTERÓIDE, BÓLIDO OU COMETA ?
O isolamento físico da Sibéria Central, congelada de oito a nove meses do ano e dominada por florestas de taiga pantanosa infestada de mosquitos, fez com que somente em 1927 uma expedição liderada por Leonid Kulik, especialista em meteoritos da Academia Russa de Ciências pudesse viajar até Tunguska. É dele a primeira descrição da espantosa destruição encontrada. Após cem anos e mais de 40 expedições científicas ao local do evento de Tunguska, continua sem resposta a origem do artefato que provocou tamanha devastação. Muitas hipóteses tem sido formuladas desde pequenas quantidades de antimatéria, asteróide, bólido, pedaço de cometa e até mesmo explosão de uma nave extraterrestre defendida pelos adeptos do realismo fantástico. Muitas tentativas foram feitas para coletar materiais que indicasse a presença de partículas cósmicas necessárias a identificação do objeto intruso. Um dos pesquisadores que mais estudou o assunto foi o norte-americano Z.Sekanina. Ele concluiu que é muito provável que o artefato que provocou o fenômeno de Tunguska tenha sido um bólido de 190 metros de diâmetro ou mesmo maior, porém menor que um asteróide do tipo Apollo que passam rasantes à Terra. Tratando-se de um asteróide, obrigatoriamente para se esfacelar com o atrito na alta atmosfera, ele teria que ser do tipo E, baixa densidade, onde predominam rochas. Contudo há um forte óbice contrário a esta hipótese ou seja, se foi um asteróide que explodiu naquela manhã de junho, porque até agora ninguém encontrou nenhum fragmento por menor que seja? Novas explorações contudo feitas recentemente por um grupo de cientistas italianos, encontrou evidências de uma possível cratera de impacto no fundo da lago Cheko, distante cerca de 8 km do epicentro da explosão e que teria se formado por destroços do astro intruso. A descoberta de um fragmento mesmo pequeno no fundo da cratera poderá trazer novas luzes sobre a origem do artefato cósmico. Outros estudos contudo apontam para um pedaço desprendido do núcleo de um cometa. Como esses astros são compostos por um conglomerado de rocha, poeira e gelo, é comum o seu esfacelamento devido a ação da radiação solar ou da gravidade na aproximação a um planeta ou ao Sol. A Terra anualmente cruza fragmentos de muitos cometas, originando as conhecidas chuvas de meteoros. Entre elas a do cometa Biela que se desintegrou após sua última aparição em 1852 de modo que um novo Tunguska pode acontecer. Cometa, asteróide, bólido, o que se chocou com a atmosfera da Terra em 30 de junho de 1908? Muito dificilmente viremos a saber. Uma coisa ou outra, a humanidade respirou aliviada após saber que se o artefato que atingiu Tunguska tivesse caído 04h45 mais tarde teria destruído a cidade de Leningrado bem como a 06h48, Oslo, a bela capital da Noruega seria atingida, em ambos casos significando enorme devastação e milhares de mortos e feridos. O episódio Tunguska é um testemunho vivo de que a bordo da nave Terra,somos todos vulneráveis.
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