Bárbara Miebach Direto de El Salvador
Com uma palestra motivacional e didática, Marcos Pontes, o astronauta brasileiro, foi o primeiro conferencista da Campus Party Iberoamérica, que acontece até sábado em El Salvador. Pontes contou sua trajetória até se tornar um astronauta e curiosidades da experiência na Nasa. "Dormir é uma das melhores coisas que você faz no espaço", disse ele bem-humorado.
Na reserva da Força Aérea Brasileira, o astronauta trocou a carreira de piloto para ser uma espécie de embaixador informal para as questões de ciência e tecnologia. Na Campus Party não foi diferente: utilizando técnicas de motivação, Pontes expôs como superou uma infância pobre para vir a ser o primero brasileiro a orbitar ao redor da Terra.
Pontes começou se desculpando por não falar espanhol, já que a maioria do pública é hispânica. O astronauta defendeu a importância de investir na ciência e tecnologia como meio de gerar empregos e superar as barreiras sociais que hoje dividem regiões pobres, como a América Latina.
"Astronomia é uma excelente maneira de se incentivar o sucesso", defendeu em El Salvador.
O astronauta utilizou a própria história pessoal, sua origem simples no interior de São Paulo, para incentivar os jovens presentes, todos vindos de países da região, a investir no aprendizado e no acesso às tecnologias. Desde a infância pobre em Bauru, o astronauta registra 9 milhões de km rodados como piloto e astronauta.
Selecionado em 1998 para o treinamento na Nasa, Pontes ficou oito anos esperando a chance de voar em uma missão espacial. O momento chegou em 2006, quando o Brasil, com apoio da Rússia, lançou a missão Centenário, em homenagem ao vôo do 14 Bis, realizado em 1906 por Santos Dumont, na França. No total, Pontes ficou dez dias no espaço, oito deles na ISS (Estação Espacial Internacional), onde realizou oito experimentos.
"O programa espacial do Brasil existe desde 1961, mas só se tornou conhecido após a missão", disse Pontes, que hoje participa de conferências e dá palestras sobre a experiência. A respeito as eventuais críticas por deixar de atuar na Aeronáutica, o astronauta é firme: "são críticas de pessoas que não são brasileiras".
Pontes foi transferido pela Força Aérea para a reserva logo após a missão Centenário, para continuar no programa espacial, em Houston, na função civil de astronauta, considerada mais importante para o País. Atualmente Pontes se divide entre São Paulo e Houston, onde está à disposição do Programa Espacial Brasileiro.
"Dormir é uma das melhores coisas que você tem no espaço"
Com a ausência de gravidade, o astronauta contou que dormir é muito fácil, o único problema é a flutuação. "Você pode dormir em um lugar e acordar em outro". Para evitar isso, utilizava um saco de dormir alojado perto de uma janela. "Eu via o dia e a noite da Terra e o Espaço".
Sobre orbitar
"A sensação de ver o dia e a noite na Terra é estranha", descreveu Pontes. Ele contou que os tripulantes da ISS (Estação Espacial Internacional), trabalham em períodos de 18 horas e dormem seis horas. Tudo o que fazem, comem e sentem é monitorado por médicos, que inclusive controlam o sono dos astronautas.
Rotina no Espaço
As atividades se dividem em trabalhar, cuidados pessoais (higiene e sono) e relações públicas com a Terra. A agenda do dia é programada e há tarefas para cada minuto. O trabalho não é pouco: quando Pontes esteve na ISS, havia 82 experimentos em andamento. As entrevistas e comunicações com a Terra também têm hora marcada, para registrar a missão.
Visões da Terra
Pontes confirmou que é possível ver, do espaço, a Grande Muralha da China. "Estando no lugar certo, na hora certa, é possível ver esses detalhes". Ele contou que via tempestades de cima e a entrada de meteoritos.
Também relatou que ao ver a Terra pela primeira vez, lembrou-se dos olhos da mãe, sua grande incentivadora, que sempre sonhou com o Espaço. "A sensação é de cordão umbilical cortado, e essa é a sensação ruim". "Tudo o que você conhece está ali", contou ele.
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