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terça-feira, 4 de novembro de 2008

Cientistas tentam últimos contatos com sonda Phoenix


Eric Hand
Engenheiros da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) dos Estados Unidos estão tentando desesperadamente manter o contato com o veículo de exploração Phoenix Mars Lander, que está escavando o gélido solo marciano desde que pousou em Marte, em maio.
Depois de uma recente perda completa de comunicações com o aparelho, os especialistas conseguiram restabelecer um elo de comunicações de baixa qualidade em 30 de outubro. Mas cada dia que passa - com o avanço do frio e da escuridão causados pela aproximação do inverno em Marte -, o veículo se aproxima mais e mais da desativação final.

"Para resumir a situação, estamos chegando ao fim", diz Barry Goldstein, diretor do programa do Phoenix, no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, Califórnia. A aproximação do inverno e o frio cada vez mais intenso significam que a os painéis solares do Phoenix recebem cada vez menos luz solar e armazenam cada vez menos energia. Mas a equipe científica da missão ainda planeja conduzir algumas experiências finais, entre as quais estudos sobre o clima do planeta, que poderiam se estender até a metade de novembro ou mais.

No final de outubro, a equipe programou uma seqüência final de movimentos para o braço robotizado do Phoenix. Isso levou o veículo a inserir uma sonda montada em seu braço em uma porção de solo aderente que formava uma fina película sobre a água em forma de gelo localizada pelo veículo em momento anterior da missão.

O Phoenix está utilizando seus instrumentos para farejar e determinar o sabor dessa terra e do gelo encontrados, em busca de sinais de presença de moléculas orgânicas e de degelo em período recente.

Mas o tempo cada vez mais nublado no planeta significa que as baterias carregadas pela luz solar que acionam os instrumentos do veículo estão em nível perigosamente baixo. E as temperaturas mais frias que a missão já teve de enfrentar - que incluíram certas noites de quase 100 graus centígrados negativos - fizeram com que os aquecedores do veículo fossem acionados pela primeira vez desde o pouso, o que representa nova perda de energia.

Mais calor que luz
Os responsáveis pela missão decidiram desligar um dos principais aquecedores, cujo funcionamento mantinha em funcionamento alguns dos instrumentos do veículo. A energia assim economizada, da ordem de algumas centenas de watts/hora ao dia, poderia ser redirecionada para outros equipamentos, o que manteria o Phoenix em funcionamento parcial por mais algum tempo.

Mas quando os comandos necessários a esse procedimentos foram enviados ao veículo, em 28 de outubro, o aparelho já havia caído abaixo de um limite mínimo de energia, o que coloca em operação o chamado "modo Lázaro", que envolve hibernações de 19 horas para tentar acumular energia seguidas por duas horas de ativação para tentativas de comunicação com satélites em órbita de Marte que sobrevoam a região em que o Phoenix está operando.

Quando está operando em modo Lázaro, o veículo robotizado aciona um conjunto de sistemas eletrônicos de reserva; isso, por sua vez, resultou em problemas para a recepção dos comandos que desativariam o aquecedor.
Uma tentativa subseqüente de desligar dois aquecedores de uma vez obteve sucesso, mas ela talvez tenha chegado tarde demais para impedir que as baterias do Phoenix registrassem perda irrecuperável de energia. Em 29 de outubro, o veículo orbital Mars Reconnaissance Orbiter tentou se comunicar com o Phoenix mas não obteve resposta, a não ser um blip fraquíssimo que os engenheiros não conseguiram determinar se representava sinal ou ruído na comunicação. No dia seguinte, a tentativa foi repetida, com igual insucesso.

Então, por fim, o satélite Mars Odyssey sobrevoou a área e recebeu um sinal enviado pelo veículo de exploração exaurido, na noite de 30 de outubro. "Nós conseguimos recuperar a comunicação com ele na manhã marciana, no período do ciclo em que o Phoenix estava ativo", diz Goldstein.

Ritos finais
Os problemas de comunicação representam um claro sinal de que a missão está se aproximando do final. "Quando um veículo chega a seus dias finais, ele começa a entrar e sair do modo Lázaro de maneira errática" afirmou Goldstein. "E não existe nada que possamos fazer para corrigir esse problema".

Os integrantes da equipe científica da missão já estão se preparando para o inevitável, ele acrescentou. "Acredito que as pessoas estejam passando por um momento de pesar, agora, porque elas estão assistindo à morte do veículo que representa parte tão importante de seu trabalho".

Chris Shinohara, que dirige o Centro de Operações Científicas da Nasa em Tucson, afirma que o termo "pesar" não representa exagero retórico. "Eu queria que o veículo ficasse em operação por tempo suficiente para ver o dióxido de carbono se acumulando no chão", ele disse, em referência ao dióxido de carbono congelado que deve surgir logo que o inverno marciano atinja sua máxima intensidade. "O que incomoda mais é saber que chegamos ao fim, mesmo. Não há mais volta".

Outros dos membros da equipe, entre os quais William Boynton, da Universidade do Arizona, o técnico responsável por um instrumento que cozia pequenas amostras de terra e testava os gases gerados por esses processo, estão esperando pelo momento em que poderão contemplar com calma todo esse trabalho, e refletir.

"Nós obtivemos muitos dados de excelente qualidade, e nem tivemos a chance de estudá-los com cuidado".
Tradução: Paulo Migliacci

Fonte:Nature

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