(Jornal O POVO) Com tempo de vida útil estimado em 15 anos, o telescópio Hubble completa seu vigésimo aniversário em plena forma, e com muitas descobertas para contar
Até início do século passado, o Universo era limitado à Via Láctea. Tudo o que existia estava enclausurado nesta galáxia, acreditavam os cientistas. Até que nos anos 1920 o astrônomo estadunidense Edwin Hubble descobriu haver outros sistemas estelares. Não somente isso, mas averiguou que nosso Universo está constantemente em expansão. Por esse feito Hubble é considerado o pai da cosmologia moderna. Nada mais justo que batizar o telescópio que seria os olhos da humanidade no espaço com o nome deste gênio.
O engenheiro alemão Hermann Oberth, autor do projeto Die Rakete zu den Planetenraumen (O foguete para os espaços interplanetários), foi o primeiro a idealizar um telescópio espacial, em 1922. Em 1958, o físico americano Lyman Spitzer conseguiu incluir no primeiro programa da agência espacial norte-americana, a recém-criada Nasa, o projeto de um "observatório astronômico orbital". Mais tarde seria o telescópio espacial Hubble (TEH).
A vantagem de um telescópio espacial está na qualidade das imagens captadas e na capacidade de "enxergar" mais longe. A luz das estrelas viaja pelo espaço quase perfeitamente transparente, mas numa fração de segundo antes de chegar aos nossos olhos ela é borrada ao atravessar a atmosfera terrestre. O ar, vapor de água e poeira do nosso planeta eliminam os detalhes cósmicos, da mesma forma que uma neblina atrapalha nossa visão na Terra.
Nos anos 1970 a Nasa, ESA (Agência Espacial Europeia) e profissionais de vários países somaram esforços para a construção do TEH. Os instrumentos foram imaginados de modo que sua substituição no espaço por um astronauta seja muito fácil. Desenvolvido para sofrer reparos e troca de peças para aprimorar sua capacidade, a expectativa de vida útil do Hubble foi estimada em 15 anos. Hoje, completando seu 20º aniversário, a expectativa é de 35 anos.
Em 24 de abril de 1990, o gigante de 13,3 metros e 11 toneladas foi lançado a bordo da nave recuperável Discovery e posto em órbita a 610 quilômetros da superfície terrestre. Seu espelho com área de captação de luz de 2,4 metros iria produzir imagens sete vezes mais nítidas e captaria 50 vezes mais objetos que qualquer observatório terrestre, mesmo com espelho maiores.
A ansiedade pelas primeiras imagens do TEH virou frustração. Os técnicos perceberam um erro mais fino que um fio de cabelo na curvatura do espelho, o que não permitia focar objetos distantes. As imagens eram embaçadas, como a visão de uma pessoa com miopia. Mais uma vez ESA e Nasa se uniram para a missão que corrigiria o defeito. Desenvolveram a Costar, uma lente corretiva que funcionaria como um óculos no Hubble.
Em 1993, a nave espacial Endeavour foi lançada do Cabo Canaveral, Flórida, com sete tripulantes a bordo para eliminar o defeito do Hubble. O reparo custou US$ 3 milhões e foi uma das atividades extra-veiculares mais demoradas da história da astronáutica, 7 horas e 48 minutos. Tal feito demandou o trabalho dos astronautas mais experientes até então, sob o comando do astronauta Richard Covey.
Finalmente as pessoas na Terra podiam ver imagens geradas em sua plenitude. Digo "pessoas", e não cientistas, porque o TEH foi criado com uma política de divulgar seu trabalho para público. Seus dados aprimoraram nossos conhecimentos sobre vida e morte das estrelas, formação de planetas, flagrou o choque do cometa shoemaker-levy 9 com Júpiter. Porém, seu maior legado talvez tenha sido a divulgação da ciência, da beleza de fenômenos cósmicos e a descoberta de quanto o Universo é enorme.
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