Pesquisas indicam que há muitos astros como a Terra em torno de estrelas próximas.Novas técnicas e missões não-tripuladas devem facilitar detecção desses corpos.
(New York Times / G1) Para aqueles de nós que ainda sentem falta do fim da franquia “Star Trek” e da sua visão do cosmos como uma boate tremendamente multicultural e por vezes letal, o anúncio na semana passada de que muitas estrelas em nossa galáxia estão circundadas por planetas do tamanho da Terra foi, francamente, de outro mundo.
Os novos planetas detectados estão perto demais de seus pais estelares para ter chances de abrigar até mesmo vida microbiana. Apesar disso, a descoberta deu um impulso aos astrônomos e pesquisadores de vida alienígena. Para começar, os planetas são bastante compactos, o que é bom. Na década passada, astrônomos encontraram algo como 250 planetas extra-solares, mas a maioria era proibitivamente jupiteriana: sacos de gás celestial provavelmente sem superfície sólida e com centenas de vezes a massa da Terra.
No novo relatório, Michael Mayor e seus colegas do Observatório de Genebra dizem ter encontrado 45 planetas que são apenas algumas vezes tão sólidos quanto nossa querida base azul, significando que eles, como a Terra, provavelmente são feitos de rocha. O cálculo é proporcionalmente impressionante: uma em três estrelas pesquisadas mostrou sinais de abrigar planetas sólidos, e outros pesquisadores realizando estudos parecidos dizem que o número pode estar mais perto de um para dois.
E embora os 45 planetas na lista de Genebra sejam todos “adoradores de estrelas”, como foi colocado por um astrônomo, com períodos orbitais de 2 a 50 dias – até mesmo Mercúrio precisa de quase três meses para circunavegar o Sol –, pesquisadores estão confiantes de que outros planetas de rocha ainda serão descobertos a distâncias de seus sóis comparáveis com as da Terra.
Viés em favor dos maiores
Sara Seager, uma teórica planetária do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, diz que astrônomos caçam planetas detectando intrigantes vibrações induzidas por eles em suas estrelas hospedeiras, um método que detecta seletivamente os grandes demais ou perto demais. Apesar disso, diz ela, “o fato é que, assim que os astrônomos começaram a procurar por planetas de pouca massa, eles encontraram um monte, e isso representa um grande avanço”. Apenas imagine o que uma análise mais detalhada revelaria.
Para alguns teóricos, os novos resultados garantem virtualmente a existência de outros mundos parecidos com a Terra.
“Imagine que você tem uma tribo, e os membros mais notáveis são os guerreiros, porque são aventureiros, vagueiam pelos arredores, e são os primeiros a serem vistos”, diz Douglas N. C. Lin, professor de astronomia e astrofísica da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz. “Mas você sabe que para cada guerreiro, há uma família inteira por trás.”
Lin continuou: “Assim que extrapolar os guerreiros, você vê o tamanho que pode ter a população no fundo da floresta, então a presença dessas super-Terras a uma curta distância implica que há conjuntos de outros planetas mais ao longe". Planetas potencialmente agradáveis. “Eu imaginaria que uma fração significativa de estrelas como o Sol, talvez mais de 10%, tenha planetas habitáveis a seu redor,” diz Lin.
Habitáveis ou abomináveis, não se pode escapar dos planetas. “Quando uma estrela é formada, ela provavelmente terá planetas”, diz Seth Shostak, cientista-sênior no Instituto SETI em Mountain View, Califórnia. “Eles são como aquelas facas dadas gratuitamente quando se compra uma churrasqueira.”
Colapso benévolo
Quando uma nuvem de poeira e gás sofre um colapso para criar uma nova estrela, girando cada vez mais rápido à medida que encolhe, forças concorrentes à da gravidade, pressão e rotação causam parte de seu achatamento em forma de disco – como a saia de uma patinadora voa em círculos quando ela coloca seu braço para trás para um giro. Os planetas, por sua vez, se condensam a partir da poeira, gás e gelo daquele disco central, em seqüências que os pesquisadores apenas começaram a modelar.
Na visão de Lin, a evolução planetária é um tipo de evento darwinista, à medida que planetas embrionários competem para aumentar seus tamanhos buscando “comida” pesada no disco, enquanto lutam para não serem consumidos por um irmão ou puxados para dentro da estrela mãe.
Se há planetas em abundância, cientistas suspeitam de que também haja vida em abundância, pelo menos do tipo microbiano. Afinal de contas, dizem eles, o surgimento da vida aqui foi relativamente rápido, talvez 800 milhões de anos após o nascimento da Terra — e, então, ficou unicelular pelos próximos 3 bilhões de anos.
Ansiosos para identificar outras candidatas a Gaia, os astrônomos têm grandes esperanças na nave espacial Kepler, a ser lançada em fevereiro de 2009. A Kepler adotará uma abordagem diferente em sua análise planetária, diz Seager, buscando não apenas vibrações estelares mas também “pequenas quedas de brilho”, possíveis sinais de um planeta transitando através da face distante do Sol. Kepler irá rastrear 100 mil estrelas por quatro anos, o suficiente para detectar os cruzamentos ocasionais de quaisquer planetas com órbitas vagarosas como o nosso.
Era dos Descobrimentos
“Isso será parecido com a grande era da exploração do século 16”, diz Shostak. “Vamos saber que fração de estrelas tem planetas”, e o mais importante, “que fração é formada por planetas pequenos e terrestres.”
Com esse abrangente atlas planetário em mãos, podemos escolher os lugares mais dignos de novas investigações: planetas que estão relativamente perto, e mais próximos do tipo que conhecemos melhor. Podemos procurar planetas rochosos que seguem caminhos estáveis, envoltos por nuvens ou vapor d’água que indiquem oceanos líquidos por baixo, e talvez oxigênio atmosférico, sinal da existência de uma biosfera. "O oxigênio é tão reagente que não deveria estar na atmosfera a menos que esteja sendo produzido por algo como a fotossíntese”, diz Seager. “É um enorme indicador de vida.”
Podemos nunca visitar esses mundos pessoalmente, mas quem sabe poderemos conhecê-los melhor à distância. “Poderíamos enviar algo do tamanho de uma bola de golfe”, diz Shostak. “Poderíamos mandar algo com olhos robóticos, narizes, orelhas, dedos, todos os sentidos que tornam as coisas interessantes, evitando o risco de entrar num foguete, mas vivendo a aventura da mesma forma.” Que vivamos de maneira longa e próspera, com nossas cabeças nas estrelas, mas nossos pés mortais com segurança no solo.
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