(O Globo) Após cientistas da Nasa sugerirem que há gelo em Marte, uma nova análise de dados sobre o solo do planeta, liderada pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, afirma que houve água suficiente em sua atmosfera para provocar chuvas ou orvalho que chegassem ao solo. A conclusão dos geocientistas desafia a visão dominante de que a água em estado líquido que pode ter existido durante a infância do Planeta Vermelho teria vindo principalmente de águas profundas que brotaram do solo, mais do que da chuva.
Os pesquisadores liderados pela UC Berkeley usaram dados sobre o solo de Marte coletados por cinco missões da Nasa, entre 1976 e 2006. O estudo foi divulgado pela Associação Americana para o Avanço da Ciência. Sua versão final será publicada no jornal da Sociedade Internacional de Geoquímica, no fim deste mês.
"A visão dominante, que é posta de lado por muitos que agora trabalham sobre as missões em Marte, é que a química do solo de Marte é uma mistura de poeira e rochas que se acumulou por longos períodos, combinada com os impactos de águas profundas que brotam, que é praticamente o oposto de qualquer processo comum de formação do solo na Terra. Nesse estudo, nós tentamos dirigir a discussão para uma reavaliação das informações sobre Marte usando princípio fgeológicos e hidrológicos que existem na Terra", disse Ronald Amundson, professor da UC Berkeley e principal autor do estudo.
Enquanto a missão Phoenix da Nasa reuniu os dados que permitiram aos cientistas afirmar que há gelo em Marte, os pesquisadores da UC Berkeley não analisam a possibilidade de existir vida no planeta, mas sim qual seria o clima que possíveis formas de vida encontrariam. A temperatura em Marte é atualmente muito baixa para que houvesse água em estado líquido, mas cientistas geralmente concordam que durante os primeiros períodos geológicos - há cerca de 4 bilhões de anos - houve gases do efeito estufa suficientes para aquecer o ar e permitir a existência de lagos e rios correntes. O deserto do Atacama tem mais em comum com Marte do que com a Terra.
Diferentemente da Terra, entretanto, Marte não tem vulcões ou outros recursos para manter o calor. Segundo Amundson, muitos cientistas acreditam que há de 3,5 bilhões de anos a água que existia no planeta vermelho congelou ou evaporou. O novo estudo sugere, porém, que existiu água em estado líquido neste período, quando começa a chamada segunda era geológica de Marte.
A tese se apóia na constatação de que parte do solo do planeta teria perdido frações significativas dos elementos que constituem as rochas que deram origem ao solo. Isso seria um sinal de que a água passou pela superfície, carregando esses elementos.
Amudson também destaca que o acúmulo de sulfato, que sugere longos períodos de seca, indica semelhanças entre o solo de Marte e o do Deserto do Atacama, no Chile - a região mais seca da Terra, onde chove aproximadamente um milímetro por ano.
"O Deserto do Atacama e os vales secos da Antártica são onde a Terra encontra Marte", disse Amundson. "Eu diria que Marte tem mais em comum, geoquimicamente falando, com esses climas extremos na Terra do que esses lugares têm em comum com o resto do nosso planeta".
O pesquisador destaca que, na Terra, o sulfato prevalece nos oceanos e na atmosfera, sendo incorporado na água da chuva. O elemento é tão solúvel que, geralmente, é lavado da superfície do solo quando chove. Assim, o fato de haver sulfato no solo de Marte indica que houve umidade suficiente para fazê-lo passar da atmosfera ao solo, mas não para retirá-lo do solo.
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