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domingo, 27 de julho de 2008

Grupo vê região do espaço "exportadora" de meteorito

Modelo digital do Eros, localizado entre planetas Marte e Júpiter; grupo indentificou região do espaço "exportadora" de meteorito

(Folha) Não é fácil adivinhar o sabor de um bolo sem provar o recheio: é mais ou menos esse o mistério dos meteoritos que mais caem na Terra. Chamados de "condritos ordinários", eles representam 75% das rochas que vêm parar aqui vindas do espaço, mas até agora ninguém sabia apontar no céu de que asteróides vêm a maioria deles. Thais Mothé-Diniz, do Observatório Nacional (Rio de Janeiro) e David Nesvorny, do Instituto de Pesquisas Southwest (EUA), porém, acabam de propor uma solução.

"Já foram achados asteróides próximos da Terra e de Marte com composição semelhante à dos condritos ordinários, mas o número desses objetos é pequeno demais para explicar a quantidade que cai na Terra", disse Mothé-Diniz à Folha.

Acreditava-se que os condritos devieram vir dos asteróides que orbitam o Sol entre os planetas Marte e Júpiter. Ali, eles formam um "cinturão" composto de cinco grandes asteróides de mais de 400 km, e mais de um milhão de corpos menores, com tamanho de até algumas dezenas de quilômetros.

Acreditava-se que a maioria dos condritos seria composta de fragmentos de asteróides vindos do cinturão. Os astrônomos, porém, analisavam a luz desses asteróides para inferir de que minerais eles são feitos, e observavam uma composição diferente da dos condritos.

Segundo Nesvorny, essa discrepância é explicada por um fenômeno chamado "envelhecimento espacial", verificado por astronautas na Lua: uma chuva de micrometeoritos, luz e vento solar modifica os minerais na superfície da Lua e dos asteróides. Assim, fica difícil saber como são por dentro.

"Uma capinha se forma sobre o corpo celeste, e você não vê a composição original dele", diz Mothé-Diniz. Para enxergar além dessa crosta envelhecida, a dupla analisou quatro "famílias jovens" de asteróides do cinturão com tamanho entre um e cinco quilômetros.

"Família" é como os astrônomos denominam um grupo de asteróides que orbitam próximos um do outro. Cada membro da família é um destroço de um asteróide maior, despedaçado por uma colisão qualquer.

Nesvorny descobriu em 2002 um meio de medir quando cada família se formou. Naquele ano, ele determinou que uma família chamada Karin surgiu há 6 milhões de anos.

"A partir daí, começamos a achar famílias cada vez mais jovens", conta. Em 2007, Nesvory achou uma família com apenas 20 mil anos de idade.

As famílias que Mothé-Diniz e Nesvorny selecionaram para o estudo elaborado agora têm 500 mil anos em média. Eles escolheram famílias "jovens" por acreditar que o dano a sua superfície fosse pequeno. Assim, poderiam enxergar como são os asteróides por dentro.

Compararam, então, a luz desses asteróides, obtida por telescópios, com a luz de amostras do condrito Fayetteville, que caiu nos EUA em 1934. E bingo! As cores das duas luzes coincidiram.

A importância de saber de onde vêm os condritos, dizem os cientistas, é que dentro deles há minérios que se formaram há mais de 4,5 bilhões de anos, quando o Sistema Solar era uma nuvem de gás, poeira e rochas em volta do recém-nascido Sol. Estudá-los permite testar teorias sobre como se formaram os planetas.

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