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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sistema Solar parece um ovo cozido, mostram sondas Voyager

Sondas espaciais lançadas há mais de 30 anos continuam a enviar informações científicas para a Terra


A heliosfera, em azul, com a posição da Voyager 2 marcada pela imagem da sonda

(Estadão) O Sistema Solar tem o formato de um ovo cozido, com a casa achatada na extremidade mais larga, mostram dados enviados à Terra pelas duas sondas Voyager, lançadas pela Nasa há mais de 30 anos e que atualmente se encontram nos limites norte e sul da heliosfera, como é chamada a região do espaço onde predominam as partículas emitidas pelo Sol, o vento solar. Para além dessa região, prepondera material gerado por outras estrelas da galáxia.

A Voyager 1 detectou a fronteira onde o vento solar colide com o vento interestelar em dezembro de 2004, a uma distância de 14 bilhões de quilômetros do Sol, ou cerca de 100 vezes o raio da órbita da Terra. A Voyager 2, por sua vez, viajando para o sul do plano da órbita dos planetas, encontrou a região de choque entre os ventos no final de agosto de 2007, a 12 bilhões de quilômetros do Sol, ou 90 vezes a distância entre a estrela e a Terra.

"O Sistema Solar é mais como um ovo, com o lado mais arredondado apontando para o vento interestelar que sopra para o Sol. Mas acabamos de descobrir que ESA forma de ovo é amassada para dentro no sul, em comparação com o norte, então talvez seja melhor falar em um ovo cozido depois de esmagarmos um dos lados", explica John Richardson, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), autor de um dos seis artigos publicados na edição desta semana da revista Nature com análises dos dados levantados pela chegada da Voyager 2 à zona de choque.

A Voyager 2 chegou ao limite da heliosfera com mais instrumentos funcionais do que sua irmã, gerando mais dados sobre o que acontece na região onde o vento solar se choca com o vento que sopra das demais estrelas. Ela também cruzou o limite várias vezes ao longo de um mesmo dia, o que indica que a região do choque é dinâmica, avançando e recuando como o mar na praia.

Uma das causas dessa oscilação, dizem os cientistas, é a mudança na pressão do vento solar. "Às vezes ocorrem tempestades no Sol que têm um vento muito rápido e denso", diz Richardson. "Quando esse vento forte, de alta pressão, atinge o meio interestelar, ele empurra esse meio para fora. Quando a pressão volta ao normal, o meio interestelar empurra de volta". Também existe um ciclo de 11 anos na atividade solar, diz o cientista, que faz com que a heliosfera "respire", expandindo-se e contraindo-se.

Os pesquisadores acreditam que a deformação da heliosfera - que, em princípio, poderia ser uma esfera perfeita, com o vento solar exercendo e sofrendo a mesma pressão me todas as direções - é causada por uma deformação no campo magnético que permeia o espaço nos arredores do Sistema Solar. Como muitas das partículas do vento solar e do vento interestelar têm carga elétrica, elas acabam sendo influenciadas por esse campo.

"Quando a galáxia nasceu, o campo magnético deveria ser relativamente uniforme", diz Richardson. "Mas neste momento o Sol está numa bolha criada por explosões de supernovas ocorridas há centenas de milhões de anos, e que sem dúvida afetaram o campo local".

As Voyagers haviam sido lançadas originalmente para aproveitar o "Grand Tour", um alinhamento dos planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno que permitiria que os quatro fossem visitados em seqüência e com um consumo mínimo de combustível. A passagem da Voyager 2 por Urano, em 1986, continua a ser a única visita de uma sonda terrestre a esse planeta.

Além de instrumentos científicos, as naves transportam os chamados "discos dourados", com registros de sons da Terra, saudações em várias línguas e imagens e instruções de como reproduzir o conteúdo. "É difícil calcular a chance de que os discos venham a ser encontrados", diz Richardson. "Para mim, é provável que existam outras civilizações capazes de viajar pelo espaço, mas a Voyager terá de passar perto delas, o que provavelmente não ocorrerá dentro de muitos milhões de anos".

Mas, lembra o cientista, "as Voyagers seguirão avançando para sempre".

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