O cristianismo soube integrar-se às festas pagãs aproveitando os hábitos e tradições dos povos primitivos
(Ronaldo Rogério de Freitas Mourão / O Povo) Para os habitantes do hemisfério Norte, onde tiveram origem quase todas as festas e comemorações sazonais do mundo ocidental, a correspondência das estações é oposta. Assim, quando durante o solstício do verão se comemora a festa do Sol, com as fogueiras de São João no hemisfério norte, com todo acerto, no Brasil comemoramos o mesmo acontecimento, se bem que aqui estejamos no inverno. Trata-se de uma dependência à tradição cultural boreal.
Apesar de as imagens solares de Cristo estarem em geral associadas ao levante do Sol, os cultos solares não foram totalmente assimilados pelo cristianismo. Todavia, é na liturgia e no culto católicos que iremos encontrar os sinais de uma mitologia solar. Com efeito, no momento das orações a Deus, os cristãos voltavam-se para o leste, em direção ao nascer do Sol. Por este motivo, as primeiras igrejas adotaram a tradição dos templos gregos e romanos, que tinham sua fachada voltada para o nascente.
Mais tarde, percebeu-se que esta disposição tornava muito difícil o posicionamento, nas igrejas, dos fiéis que vinham orar e dos sacerdotes que oficiavam as missas. Em conseqüência, desde o início do século IV, não se orientaram mais as fachadas, e sim os absides - cabeceira das catedrais católicas, onde fica o altar-mor - que passaram a ser dirigidas para o levante. Durante os primeiros ritos de batismo, o sacerdote começava sua oração voltando-se para o oeste, com o objetivo de recusar o demônio, que dominava o poente. No fim, da cerimônia batismal, voltava-se para o leste, onde surge o dia, que estava associado à imagem de Cristo.
Não existe dúvida, que o cristianismo soube integrar-se às festas pagãs aproveitando os hábitos e tradições dos povos primitivos para lhes dar uma nova roupagem conveniente aos seus objetivos religiosos. Na realidade, os dirigentes cristãos tiveram muito mais sucesso com o solstício do inverno para substituir as celebrações pagãs deste momento pela festa da Natividade de Cristo, do que com o solstício de verão.
Na realidade, em 24 de junho, o cristianismo festeja o nascimento de São João Batista que batizou Jesus. Em conseqüência, as tradições folclóricas das festas juninas possuem até hoje ecos mais pagãos e místicos que todas as outras comemorações católicas. De fato, no século passado, na Franca, era hábito, ao pôr-do-sol do dia 23 de junho, cada habitante da cidade levar lenhas para uma enorme pirâmide de gravetos que se construía na praça principal.
Ao anoitecer, o pároco de Igreja mais próxima chegava na frente de uma procissão de fiéis e ateava fogo a pirâmide de madeira. Os chefes de família passavam pela chamas um ramo de flores que, na manhã seguinte, antes da aurora, era colocado na porta do estábulo. Só depois deste ritual, os jovens podiam dançar ao redor do fogo e em seguida saltar por cima das brasas, cujos restos eram levados para casa. No dia seguinte, ao anoitecer, levavam para o alto de uma colina um enorme cilindro de palha. Com uma longa vara, guiavam o cilindro em chamas, durante a sua descida. Quando a roda de fogo passava, as mulheres e as moças que haviam ficado em casa à espera, gritavam saudando os homens e o fogo.
Nas regiões montanhosas, é hábito ainda subir, antes da aurora, no dia 24 de junho, aos pontos mais elevados das colinas, para esperar o nascer-do-sol. Quando o astro aparecia, todos gritavam de alegria. Nos vales vizinhos, os sinos das igrejas começam a soar, acordando toda a população. Os que estavam esperando a chegada do Sol, nas colinas, voltam para as cidades com ramos de ervas aromáticas as quais atribuem virtudes de cura aos doentes.
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