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terça-feira, 26 de agosto de 2008

Novo telescópio busca a origem do universo

Além de pesquisar os limites do tempo-espaço e as origens do universo, o novo telescópio tem outras missões específicas

(Ethevaldo Siqueira / Estadão) Imagine, leitor, a reação de Galileu se renascesse hoje e pudesse comprovar o progresso da astronomia nos últimos 400 anos. Mais ainda: se tomasse conhecimento do projeto do Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble, cujo objetivo principal será revelar as origens do universo a partir do estudo das primeiras estrelas, galáxias e outros corpos celestes mais distantes.

O novo telescópio espacial deverá ser posto em órbita em junho de 2013, por um foguete Ariane 5, a partir da Base de Kourou, na Guiana Francesa, num projeto de colaboração internacional entre a Nasa, a Agência Espacial Européia e a Agência Espacial Canadense. O nome James Webb é uma homenagem ao administrador da Nasa, da primeira fase do Projeto Apollo, de 1961 a 1968.

Orçado em US$ 5 bilhões, o novo telescópio espacial tem algumas características únicas, como o espelho principal ultraleve, de berílio, com 6,5 metros de diâmetro e distância focal de 131,4 metros. Ou suas 4 câmeras de luz infravermelha ultra-avançadas, que lhe permitirão fotografar objetos nos confins do universo, a 13 ou 14 bilhões de anos-luz de nós.

Além de pesquisar os limites do tempo-espaço e as origens do universo, o novo telescópio tem outras missões específicas como: 1) identificar e fotografar as primeiras galáxias ou objetos luminosos formados logo após o Big Bang; 2) determinar como as galáxias evoluíram desde sua formação até hoje; 3) observar o nascimento de estrelas desde os seus primeiros estágios até a formação de sistemas planetários; 4)identificar e medir as propriedades físicas e químicas dos sistemas planetários; 5) pesquisar o potencial para formação da vida naqueles sistemas.

A órbita L2

Para obter os melhores resultados de suas observações, o telescópio espacial deverá estar situado num ponto em que a atração da gravidadede três corpos celestes – Sol, Terra e Lua – se equilibra ou se anula. Esse ponto chama-se L2 (Ponto de Lagrange 2). Nele, o telescópio permanecerá indefinidamente ou girará em torno do próprio ponto L2.

Em 2013, o James Webb será posto numa órbita muito mais alta que a de qualquer satélite, equivalente a 4 vezes a distância da Terra à Lua, acerca de 1,5 milhão de quilômetros, fora, portanto, do alcance das missões de serviço e reparos feitas pelos ônibus espaciais.

Foi o matemático ítalo-francês Joseph Louis Lagrange que, por puro amor à ciência, no início do século 19, determinou cinco pontos no espaço – de L1 a L5 – nos quais a atração da Terra, do Sol e da Lua se equilibra ou se anula.

O James Webb fará primordialmente observações na faixa de luz infravermelha dos objetos mais distantes e de visibilidade mais difícil. A fim de evitar a incidência direta da luz solar e o aquecimento dos equipamentos mais sensíveis, o telescópio utilizará uma placa de proteção de 200 metros quadrados – do tamanho de uma quadra de tênis –, que funcionará como uma espécie de toldo ou teto, para manter o conjunto à sombra, a temperaturas próximas do zero absoluto, e conferir ao observatório espacial uma extrema sensibilidade à luz infravermelha.

O velho Hubble

O saldo de realizações do Hubble, ao longo de 18 anos de atividade, é imenso: o telescópio espacial calculou com precisão a idade do universo, descobriu evidências da energia negra e trouxe-nos centenasde milhares de imagens de galáxias distantes no universo jovem, forneceu aos cientistas uma massa de informações milhares de vezes maior do que tudo que a humanidade conhecia até a data de seulançamento, em 1990.

No final deste ano, uma equipe de astronautas viajará até o Hubble no ônibus espacial Atlantis para executar a quarta e última missão de serviço, para reparos e substituição de equipamentos, permitindo que o telescópio permaneça em atividade no espaço até 2013. Com essa renovação, o veterano telescópio ganhará nova vida. Os astronautas que vão trabalhar nessa missão já estão em treinamento, para a viagem ao espaço a ser iniciada no dia 8 de outubro.

A Nasa conta ainda com três outros telescópios espaciais ou grandes observatórios, menos famosos que o Hubble. São eles: 1) Spitzer, que opera no infravermelho; 2) Chandra, que faz varreduras de raios-X; e 3)Compton Gamma Ray Observatory. A Agência Espacial Européia (ESA) dispõe do XMM-Newton, grande telescópio que opera com raios-X.

Espero estar lá

Assistir ao espetáculo de lançamento de satélites ou de sondas espaciais é uma experiência inesquecível, que nos dá uma sensação contraditória de poder e de pequenez do ser humano diante do universo.

Por isso, mesmo com cinco anos de antecedência, já estou fazendo planos para testemunhar na Base de Kourou, na Guiana Francesa, o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, como fiz em outras oportunidades, ao longo de meu trabalho profissional, em mais de uma dúzia de lançamentos de satélites e sondas espaciais, desde o ProjetoApollo à Voyager-2, aos satélites Brasilsat e ao próprio Hubble.

Com os olhos da imaginação, já estou vendo a lenta decolagem do foguete Ariane 5 levando o James Webb ao espaço.

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