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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Nuvens de metano em Marte podem indicar vida

Eric Hand
Mais de quatro anos depois que os pesquisadores informaram pela primeira vez sobre a descoberta de gás metano em Marte, um cientista alega que conseguiu "confirmar firmemente" a controvertida detecção e identificar as principais fontes do gás.
Na Terra, o metano tem origem primordialmente biológica; em Marte, ele poderia sinalizar a presença de micróbios vivendo em grande profundidade no subsolo. As mais recentes pesquisas sugerem que o metano marciano esteja concentrado tanto no espaço quanto no tempo - como uma série de pontos de concentração de centenas de quilômetros de extensão, formando plumas de fumaça de metano que florescem e se dissipam em menos de um ano.

As notícias sobre a detecção já vinham circulando entre os estudiosos de Marte há alguns meses, e bem no momento em que começa a ser discutido o local de operação do Mars Science Laboratory (MSL), um veículo de exploração de superfície de US$ 2 bilhões que deve ser lançado em 2009 para avançar os estudos do planeta.

O MLS transportará um instrumento capaz de detectar tanto a presença de sinais modestos de metano e de ajudar a discernir se eles têm origem geológica ou botânica. Uma das nuvens de metano supostamente detectadas cobre um dos sete possíveis locais de pouso do MSL: Nili Fossae, que não encontrou destaque como local de pouso entre a comunidade científica em uma avaliação conduzida em setembro, a qual não levou em consideração os detalhes emergentes sobre a presença de metano.

"Agora é como se tivéssemos placas no planeta que dizem 'ei, estou aqui, venham para cá!'", diz Michael Mumma, cientista planetário do Centro Goddard de Vôo Espacial da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), em Greenbelt, Maryland. Ele apresentou os resultados do trabalho de sua equipe em uma reunião da Sociedade Astronômica Americana em Ithaca, Nova York, no dia 11 de outubro.

Mumma vem argumentando em defesa da presença de metano em Marte desde 2003, quando algumas outras descobertas iniciais começaram a emergir. Um grupo, utilizando o telescópio financiado pela França, Canadá e Havaí no monte Kea, Havaí, encontrou índices planetários residuais de metano da ordem de 10 partes por bilhão, mas não conseguiu localizar outros detalhes.

Um segundo grupo, usando milhares de imagens espectrográficas obtidas pelo explorador orbital Mars Express, da Agência Espacial Européia (ESA), encontrou nível planetário semelhante de metano residual, com indicações de possíveis variações regionais de concentração. Mas parte do impacto desse estudo foi diluído quando o diretor científico, Vittorio Formisano, do Instituto de Física e Espaço Interplanetário de Roma, apresentou também alegações separadas sobre a presença de amônia e formol, que não foram substanciadas.

Mumma, um especialista em imagem espectrográficas, obteve dados de telescópios no Havaí e no Chile, para sustentar a idéia de pontos de concentração de metano.

Agora, ele diz que sabe ao certo e que está pronto a publicar seus resultados. Depois de acumular mais quatro anos de dados, Mumma confirmou a presença de metano equiparando quatro linhas em suas imagens espectrográficas da atmosfera do planeta à assinatura característica do metano - uma determinação mais definitiva do que análises anteriores - e encontrou mais provas de que o metano está concentrado em focos geográficos separados, com presenças da ordem de 60 partes por bilhão como pico de concentração.

"Os números dele mudaram consideravelmente ao longo do tempo. Mas Mike apresenta argumentos bastante convincentes¿, diz Steven Squyers, cientista planetário da Universidade Cornell, em Ithaca, e diretor científico dos veículos de exploração de superfície Spirit e Opportunity, que realizaram trabalhos de pesquisa em Marte.

Mais importante que os picos de concentração, diz Mumma, é a curta duração das nuvens de metano. Anteriormente, acreditava-se que o metano fosse destruído pela luz do sol na atmosfera - um processo lento que permite que o gás se misture com a atmosfera e persista por cerca de 300 anos.

Uma presença planetária da ordem de 10 partes por bilhão combinada a uma duração de centenas de anos significa que algumas centenas de toneladas de metano estariam chegando à atmosfera a cada ano: o equivalente ao trabalho de alguns poucos milhares de vacas.
Mas as nuvens de 60 partes por bilhão com duração de menos de um ano indicam ritmo de produção de metano algumas ordens de magnitude mais elevado. "Isso é importante", diz Sushil Atreya, da Universidade do Michigan em Ann Arbor, co-autor do estudo sobre o trabalho do Mars Express em 2004.

Determinar se a origem das nuvens de metano é orgânica ou geológica é impossível, por enquanto, de acordo com Atreya. Por exemplo, pode ser que haja micróbios vivos na região recoberta por uma espessa camada congelada, e o metano que emitem como resíduo poderia subir à superfície.
O metano também pode surgir de reações químicas nas quais rochas vulcânicas enterradas, ricas no mineral olivina, interagem com a água.
Uma terceira possibilidade seria que o metano esteja escapando de clatratos enterrados, depósitos de metano em forma de gelo formado no passado por um dos dois mecanismos mencionados acima.
Mas o próximo veículo de exploração de Marte da Nasa poderá analisar, em nível de partes por trilhão, as concentrações fracionais de isótopos de carbono em cada molécula de metano. A vida na Terra prefere processar os átomos de carbono 12, mais leves. E, assim, caso o metano de Marte tenha carbono 12, isso pode indicar origem biológica.

John Grotzinger, geólogo do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena, e diretor científico do MSL, diz que a detecção de metano pode ser importante na escolha do destino do veículo.

"Vamos considerar a questão seriamente", afirma. "Precisamos avaliar os dados e determinar se Nili Fossae é o único local em que isso acontece". Os resultados sobre o metano podem ser debatidos em um reunião no mês que vem, na qual os sete locais serão avaliados do ponto de vista da engenharia e segurança.

Uma alteração de prioridade quanto aos sites pode ser realizada, diz Grotzinger, mas ele precisa de dados sólidos para isso. "Palestras não contam. O estudo precisa ter sido publicado", diz.
O relatório de pesquisa de Mumma está sob revisão pela revista Science.

Tradução: Paulo Migliacci

Fonte:Nature

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