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segunda-feira, 9 de março de 2009

Mais um caça-planeta em atividade


Telescópio Kepler, da Nasa, alia-se ao Corot na prospecção de corpos celestes com alguma chance de abrigar vida

Herton Escobar escreve para “O Estado de SP”:

A maioria dos astrônomos acredita que o universo está repleto de planetas pequenos e rochosos, parecidos com a Terra, onde a vida como a conhecemos teria uma chance para florescer.

Só em nossa galáxia, a Via-Láctea, deve haver alguns milhões deles por aí. O único problema é que não temos como enxergá-los – algo que está prestes a mudar, com a entrada em órbita de um novo telescópio espacial da Nasa, o Kepler.

Lançado ontem de madrugada (horário de Brasília) do Cabo Canaveral, na Flórida, o Kepler ficará "estacionado" em uma órbita ao redor do Sol durante pelo menos três anos e meio, apontando para uma região do espaço entre as constelação de Cygnus e Lira.

Equipado com um espelho de 1,4 metro de diâmetro e uma câmera digital de 95 megapixels de resolução, ele vai monitorar em tempo real variações na intensidade luminosa de cem mil estrelas naquela região.

Sua missão é bem específica: detectar a presença de planetas pequenos e rochosos na órbita dessas estrelas. O Kepler não vai tirar fotos; funcionará exclusivamente como um fotômetro, capaz de detectar variações ínfimas de luminosidade (se estivesse apontado para uma pequena cidade na Terra, segundo a Nasa, perceberia até quando alguém apaga a luz do quintal de casa).

A ideia é que, quando um planeta passar na frente de uma dessas cem mil estrelas, ele causará um minieclipse, que o Kepler registrará como uma redução momentânea na luminosidade daquela estrela.

Caso esse trânsito se repita mais três vezes em intervalos bem determinados, será uma forte indicação de que há um planeta ali. Se os planetas rochosos forem mesmo tão comuns como se imagina, os especialistas da Nasa esperam detectar algo entre 50 e 640 candidatos a planeta no campo de visão do Kepler, que depois serão confirmados por outros métodos, com instrumentos em terra. Os primeiros resultados deverão sair a partir de 2012.

A Nasa anunciou o Kepler como o "primeiro" telescópio espacial capacitado a detectar exoplanetas pequenos como a Terra. Mas não é exatamente verdade. Em dezembro de 2006 já foi lançado o Corot, um satélite construído pelo Centro Nacional de Estudos Espaciais da França e operado em parceria com o Brasil, que foi projetado exatamente para detectar exoplanetas pequenos como a Terra.

O Corot utiliza a mesma técnica de fotometria de trânsito e tem a mesma sensibilidade que o Kepler, mas é bem menor do que o telescópio da Nasa. Além disso, o Corot precisa olhar para uma região diferente do espaço a cada seis meses, por causa da sua orientação em relação ao Sol, enquanto o Kepler vai olhar para a mesma região durante três anos, o que aumenta muito suas chances de detectar planetas.

"Esse é o grande trunfo", disse o astrofísico brasileiro Eduardo Janot-Pacheco, da USP, que é presidente do Comitê Corot-Brasil.

Em dois anos no espaço, o Corot detectou mais de 300 candidatos a planetas. Oito já foram confirmados, mas apenas um é rochoso – e, ainda assim, com quase o dobro do tamanho da Terra e próximo demais de sua estrela para ser habitável (a temperatura estimada na superfície é de 1.000°C).

“Espero que o Kepler tenha mais sucesso”, disse o astrofísico Sylvio Ferraz Mello, também da USP. “Seguramente há muitos planetas rochosos lá fora, mas talvez observá-los seja mais difícil do que se pensava.”

Janot está confiante de que a dupla Corot e Kepler vão “povoar nosso universo com planetas rochosos, que é o que interessa para a astrobiologia”, a ciência que estuda a origem da vida na Terra e sua possível existência em outros lugares do universo.

Encontrar planetas que são potencialmente habitáveis não significa que eles sejam, de fato, habitados, alertam os pesquisadores. Mas é o primeiro passo.

Fonte: O Estado de SP

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