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domingo, 7 de agosto de 2011

(O Povo) A chuva de meteoros perseidas e a imprensa



Mais uma vez aproxima-se uma das chuvas de meteoros mais ativas do ano. Trata-se das Perseidas (ou Perseídeos), cujo pico de atividade é alcançado em meados do mês de agosto. Para o ano de 2011, o máximo está previsto para a madrugada de 12 para 13 de agosto (sexta para sábado).

Para observar os meteoros, é preciso localizar a região do céu onde se localiza a constelação do Perseu. Quem não souber onde fica esta constelação vai precisar se orientar localizando antes o Cinturão de Órion, as famosas Três Marias.

Por volta das 4 da manhã (sim, o horário é um pouco cruel), localize as Três Marias no céu. Elas estarão na direção leste (onde o Sol nasce), quase a meio caminho entre o horizonte e o zênite (ponto do céu que fica em cima de nossas cabeças).

Estando de frente para as Três Marias (ou seja, de frente para o lado leste), teremos o norte à esquerda. Basta virar, então, para a esquerda, ficando de frente para a região onde está localizada, nesse horário, a constelação do Perseu. Paciência, local escuro, um horizonte desobstruído e uma posição confortável vão ajudar a visualizar os meteoros.

As Perseidas, assim como as demais chuvas de meteoros, ocorrem uma vez por ano, sempre na mesma época. No ano passado, houve uma confusão com relação à observação desses meteoros para quem mora no Brasil.

Tal confusão foi gerada por uma informação que a imprensa nacional retirou de um site de notícias localizada em outro país, no Hemisfério Norte, sem fazer as devidas adaptações para quem mora no Hemisfério Sul.

A chuva de meteoros Perseidas recebe este nome porque a região de onde saem os meteoros (o radiante) se localiza na constelação do Perseu. Ora, o Perseu é uma constelação perfeitamente visível do Hemisfério Norte. Enquanto na Europa, o Perseu pode ser observado próximo da região mais alta do firmamento (o zênite), o mesmo não acontece para quem está, por exemplo, no Brasil.

Para quem estiver nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, o Perseu poderá ser visto tranquilamente, ao norte, no horário indicado. Mas a altura máxima que a constelação alcança no céu não passa de 30 graus, bem diferente de sua altura quando observado da Europa ou da Ásia. Assim, a visualização dos meteoros já fica comprometida diante de sua baixa altura quando visto de locais do Hemisfério Sul.

Vale a pena esclarecer alguns pontos, que parte da imprensa gosta de explorar, sem se preocupar com as adaptações à nossa realidade:

- As Perseidas podem ser vistas assim que anoitecer - MENTIRA: a não ser que você esteja observando-as da Europa ou da Ásia. Do Brasil, nesta época, somente de madrugada. O horário em que a probabilidade de ver os meteoros aumenta é quando o Perseu alcança sua altura máxima, por volta das 4 da manhã. Você pode até conseguir vê-los antes, conforme o Perseu for surgindo no céu, mas nunca “assim que anoitecer”.

- Podem ser vistos mais de 100 meteoros por hora – MENTIRA: a taxa estimada pode alcançar os 100 meteoros por hora, mas isto se refere à chuva sendo visível no zênite, posição exclusiva para as altas latitudes do Hemisfério Norte. Para o Hemisfério Sul, com sorte e tempo limpo, podem ser visualizados menos de um terço dessa estimativa. O que faz cair essa estimativa é a posição do Perseu em relação ao horizonte. Para este ano, outro fator que vai atrapalhar a visualização dos meteoros será a Lua Cheia.

- Para ver os meteoros basta olhar para o céu e esperar – INFORMAÇÃO INCOMPLETA. Você vai precisar de duas informações importantes para ver os meteoros: quando e para onde olhar. Ano passado, diante de divulgação precipitada da imprensa nacional, muitas pessoas no Brasil ficaram olhando para o céu ano passado procurando as Perseidas em horários e locais que nada tinham a ver. As informações necessárias já foram ditas acima.

É importante aproveitar eventos astronômicos desse porte para difundir ciência às pessoas. É um espetáculo bonito e barato (não precisa de telescópios para ver os meteoros). O trabalho da mídia é, sem dúvida, indispensável para tornar a difusão científica mais eficaz.

Mas o resultado esperado só pode ser alcançado com profissionalismo e responsabilidade. É isso que a comunidade astronômica espera da imprensa: uma parceira, não uma vilã.

Saulo Machado é administrador de empresas, astrônomo, professor e membro do Grupo de Apoio em Eventos Astronômicos (GaeA) - http://gaea.net.br

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