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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Miragens no céu

(Cássio Leandro Dal Ri Barbosa / G1) Uma equipe internacional de astrônomos lideradas por Adam Bolton, da Universidade do Havaí lançou um catálogo (o maior por enquanto) de lentes gravitacionais. Este catálogo veio mais uma vez mostrar que existe mais coisa nas galáxias, do que aquilo que enxergamos.

Começando pelas lentes gravitacionais. Mais ou menos na década de 1930 um físico de meia-idade previu que a luz de uma fonte distante (estrela ou galáxia, por exemplo) poderia ser distorcida e desviada no espaço, tal qual ocorre quando ela passa por uma lente de vidro. Todavia, quem faria o papel de lente ao invés de um pedaço de vidro polido seria uma grande concentração de matéria, como uma galáxia, por exemplo.

Esse efeito ficou conhecido como lente gravitacional e dependendo da geometria do sistema, um anel poderia se formar no céu, tal qual uma miragem — nesse caso, ele recebe o nome de anel de Einstein, em homenagem àquele físico. Em alguns casos, esses anéis de Einstein produzidos podem ser até 30 vezes mais brilhantes do seria a galáxia distante sem este fenômeno.

Esse efeito de lente gravitacional é muito útil quando se quer estudar tanto a galáxia (ou quasar) mais distante quanto a concentração de matéria que produz a distorção. Isso por que a teoria está muito bem assentada, basta que se observe o sistema com cuidado e podemos determinar as massas tanto dos objetos mais distantes quanto a de quem faz o papel da lente. Agora, de uma tacada só, a equipe liderada por Bolton lançou um catálogo com 70 destas imagens de lentes.

Essas lentes foram descobertas a partir de imagens de um projeto ambicioso que está mapeando um quarto do céu visível com um telescópio de 2,5 metros no Novo México. Esse projeto pretende medir a distância de aproximadamente um milhão de galáxias e quasares distantes com alta precisão. Uma vez descobertos, esses arcos foram observados com maiores detalhes com a finada câmera ACS do Hubble (por falar nisso a missão de conserto do Hubble será a próxima missão de um ônibus espacial, em outubro).

Além de produzir uma gama de imagens bizarras de galáxias distantes distorcidas (em azul) ao redor de galáxias mais próximas (em amarelo ou vermelho) esses arcos revelam que falta alguma coisa. As imagens distorcidas podem ser reconstruídas com a ajuda da teoria da gravitação de Einstein revelando a morfologia da galáxia distante. Uma animação mostrando isso pode ser vista aqui.

Analisando as massas, os brilhos das galáxias envolvidas, bem como as velocidades das estrelas nelas, os astrônomos chegaram à conclusão que as contas só fechariam para produzir a lente observada se fosse adicionada a misteriosa matéria escura.

Esse resultado até que não é novidade, mas com tantas lentes observadas em uma faixa ampla de massas para as galáxias, Bolton e sua equipe notaram que a razão entre a quantidade de matéria escura e matéria luminosa (representada basicamente pela luz das estrelas) não permanece constante. Na verdade, um resultado importante dessa pesquisa é que a fração de matéria escura em relação às estrelas tende a aumentar sempre que se considera galáxias com cada vez mais matéria.

Bela aplicação de uma teoria de 1930 e que passou 40 anos esperando por confirmação, não acha?

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