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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Segurança desacelera plano de foguete brasileiro

(Folha) A cultura de segurança que se instaurou no programa do foguete brasileiro VLS (Veículo Lançador de Satélites) após o acidente que matou 21 pessoas em 22 de agosto de 2003 deixou os trabalhos mais lentos. O cronograma apresentado pelo IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço) prevê agora que um lançamento completo possa ocorrer só em 2012, após o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2010, o foguete já estará em sua plataforma no Centro de Lançamento de Alcântara (MA), mas não será lançado. "Vai ser montado com todos os sistemas elétricos, já na configuração da interface do foguete com a torre, para tudo ser retestado sem ele estar com nenhuma carga explosiva", diz o coronel-engenheiro Francisco Pantoja, novo diretor do IAE.

"Essa mudança dá mais segurança, mas você tem que ter mais tempo para fazer as coisas."

O combustível inflamável do VLS, diz, deve ser colocado no veículo só em 2011, e este ano não ocorrerá lançamento com trajetória completa do foguete. "Ele não vai voar como teria voado na concepção anterior", diz Pantoja, explicando que o foguete tem propulsores que funcionam em quatro estágios diferentes até entrar em órbita. "Em 2011, faríamos um teste tendo só o primeiro estágio real", afirma.



Propulsor do VLS que passou por uma revisão de projeto; dispositivo

vai ser testado em São José dos Campos em setembro

Se tudo der certo, em 2012 o VLS já poderá subir carregando um satélite experimental. Depois disso, já estaria qualificado para colocar um satélite real em órbita. Mas o cronograma já não é tão rígido.

"Se vamos colocar esse foguete pronto para ser testado é porque estamos admitindo que um novo conhecimento sobre esse sistema nós vamos obter", diz o coronel. "Eu posso perceber que alguma coisa não está boa. Aí, teremos de melhorar. É para isso que fazemos o teste. Não é só uma coisa pró-forma."

Essa postura pública de maior cautela aparentemente é uma qualidade nova no programa espacial. Um mês após o acidente de 2003, o então ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, ainda prometia que o VLS voaria até 2006, antes de acabar o primeiro mandato de Lula. Não voou.


O presidente da República poderá ainda estar no cargo quando assistir ao lançamento de um satélite, mas não com um foguete brasileiro. Amaral, que hoje dirige a empresa aeroespacial binacional que a Ucrânia montou com o Brasil, promete agora lançar o modelo ucraniano Cyclone-4 desde Alcântara até 2010. Quem deve faturar sobre o brasileiro VLS-1 é o próximo governo.

A salvo dos raios

Engenheiros estão trabalhando nesta semana nos preparativos para o teste de um dos propulsores do foguete. Será o primeiro depois de ele ter passado por uma revisão de projeto do sistema elétrico, apontado como uma possível causa do acidente com o modelo anterior. Numa operação que exige planejamento cuidadoso, um dos motores do foguete será acionado --preso a uma bancada, para não sair voando-- e filmado para avaliação.


O teste deveria ter sido feito no começo deste mês, em uma instalação do CTA (Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial) em São José dos Campos, mas foi adiado porque o local tinha problemas. "Chegamos lá e vimos que o sistema de proteção contra descargas atmosféricas [raios] não estava conforme a norma", diz Pantoja.


A operação deve ocorrer agora até a segunda quinzena de setembro. "Obviamente, isso tem um custo, que é o de alongar o prazo do ensaio, e há um desgaste, porque prometemos para a sociedade fazer isso naquele momento", diz o coronel.


Segundo ele, porém, a decisão foi acertada pois, naquele fim de semana, choveu na cidade e houve raios e trovões. "É melhor ter o desgaste de não realizar um ensaio no prazo do que correr risco desnecessário."

Pantoja afirma que o IEA sempre buscou esse rigor de segurança, não apenas como reação ao acidente com o VLS em 2003 às vésperas do lançamento. O relatório da comissão externa que avaliou o desastre na época, porém, mostrou que havia um ambiente de descuido na torre do foguete.


Segundo o documento, era permitido que "tarefas de risco fossem realizadas juntamente com outras tarefas" e que CTA e IAE tinham "uma cultura de segurança pouco sedimentada e degradada ao longo dos anos".

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